"É proibido a entrada a quem não andar espantado de existir"
(José Gomes Ferreira)


domingo, 29 de julho de 2012

Cartas a um ingrato


Estava falando com você e a ligação caiu....

...mas tenho uma ultima coisa a dizer.

na verdade as primeiras palavras não são minhas, são do Bob Marley: "a maior covardia de um homen e despertar o amor de uma mulher sem ter a intenção de amá-la".

...estava aqui pensando... e quando o amor dorme profundamente, e esse homem vem e o desperta pela segunda vez sabendo que não tem nada para oferecer por que está preso a um outro compromisso. ele sabe que que vai despedaçar seu coração mais uma vez e mesmo assim ele o faz.... é mais do que covardia, é cruel.

como você pode dizer que me ama e ao mesmo tempo arrancar esse coração do meu peito? 
por isso já não tenha coração, mas ainda assim sei amar você de novo e de novo, sei amar desse jeito que sufoca e seca a garganta, e mesmo que você crave o seu punhal da perfídia mil vezes em meu peito ainda assim amo te mansamente como bossa nova, e intensamente como só eu sou capaz de te amar.

Ainda escreverei uma infinidade de poemas em teu nome e chorarei a cada musica que fale desse sentimento que não se pode  explicar. e em cada palavra que eu ouvir, e em cada palavra que eu escrever, eu te darei meu perdão mesmo que você não o mereça por que sou assim. por que amo você.

estava certo o padre Fábio de Melo quando disse:  Diga-me quem você mais perdoou na vida, e então direi quem você mais amou.

Mas com tudo isso, com todas as mágoas que me causou, com todas mentiras que me disse, cada vez que riu de mim e sentiu prazer com meu sofrimento, a cada vez que me senti totalmente sem vida que não pude sequer manter meus cabelos sobre minha cabeça, quando meus olhos já sem brilho ainda chorou por você,  a cada vez que caí em profundo desespero, nem nesses momentos me fiz indigna ou fui humilhada por você por que é assim o amor.

É pena que mesmo que eu coloque em sua vida vazia, calor e brilho, sonho e canção; mesmo que eu complete a lacuna triste que sua história traz, e interrompa o ciclo e a sensação de abandono que está preso no âmago do seu ser...  mesmo com tudo que ja fiz e farei, parece que nada é suficiente para ti. 


Certa vez me perguntaste o que acontece com um nosso amigo,  qual o motivo de ele não enxergar um palmo adiante do nariz, sendo você mesmo totalmente inerte por sua cegueira, paralisado pelo medo de mudar a sua vida. 

Tenho de tí as provas de que não devo mais  viver como sua amiga, dando ouvidos as sua palavras e convivendo contigo, logo, não terás mais a minha atenção e companhia.

ADEUS.

Cartas a um ingrato

Sinto que tudo isso vai passar e mais uma vez vou seguir em frente e superar o vazio que vc deixa cada vez que escolhe se acovardar e me deixar ir da sua vida.

Se uso essa palavra acovardar não é para vc se ofender, não é a minha intenção.
mas a unica razão de não sermos totalmente felizes e a sua  falta de atitude... não estou te julgando mas vc tem se mostrado um fraco. meu deus pensar que eu quase morri de tristeza por que a unica coisa que podia amenizar a minha dor era uma palavra sua e vc não teve coragem de olhar nos meus olhos. de falar comigo. 

O amor exige força e coragem, e vc não os tem. por isso vc nunca vai conseguir ser feliz realmente.  
pensas que está bem mas não está. não adianta trocar de esposas se vc continua com o mesmo coração... 

Eu sei o que vc está pensando: que não te entendo, não entendo os seus motivos....
mas eu sei pelo menos um pouco... que vc está preso a formalidades e compromissos mentais por que acha que o certo a fazer é abrir mão dos seus desejos por conta de outras pessoas e do que elas vão dizer ou pensar... essa mesma pessoa que prende vc não prende a si mesma e quando a felicidade dela estiver em jogo ela não vai te poupar como vc faz por ela.

Infelizmente meu querido e lindo amigo, so há uma maneira de ser feliz nessa vida... sendo um pouco egoístas para realizar os desejos do nosso coração. 
uma vez eu fui feliz... quando ignorei todos os avisos, das pessoas e da minha propria consiencia que me avisava que você não era a pessoa certa... apesar de todos os protestos eu deixei tudo aqui para estar com vc so algumas migalhas de horas que vc me concedeu... nesses momentos fui verdadeiramente feliz... quando deixei de ligar pro que  as pessoas pensam, no que elas esperavam de mim.

Talvez eu esteja errada de tudo isso que eu disse e és muito feliz com a vida que leva.... e so me procurou da ultima vez para brincar comigo...  fico triste de pensar que existe essa possibilidade, e que fostes um mentiroso. se vc mentiu, então vc não e a pessoa que eu pensei ser e fica mais fácil deixar vc para sempre....por que nesse caso o homem que eu pensei que poderia ter uma vida de felicidades a meu lado, não existe... 

Você fala que eu tenho que entender o seu lado... mas não me explica o que está acontecendo contigo.
foi exatamente como da outra vez, vc fica repetindo que eu não entendo mas e incapaz de falar abertamente o que exatamente acontece no seu coração e na sua cabeça...
eu ja fiz de tudo pra provar que vc pode confiar em mim e me dizer tudo que quiser. não e que eu seja xereta... e so que da outra vez vc agiu assim e agente não deu certo, então acho que temos que agir diferente. 


Se  tiver coragem de dizer qual e seu verdadeiro medo, ou medos, me diga matamos de uma vez essa história maldita que me corroe. se vc gosta um pouco de mim, ou sente ao menos consideração, tira de mim esse sofrimento de não saber o porque de vc  escolher qualquer destino louco para sua vida, escolher fazer coisas que te destroem, qualquer coisa serve, menos o meu amor e companhia ...
 
Acaso acha que eu também não tenho medo? és maluco, gosta de beber, gosta de me ferir, é inconstante e insensível comigo... tem uma infinidade de outros defeitos que se eu fosse colocar em uma balança, se eu fosse me acovardar, eu faria contigo o que faz comigo, se vc for esperar as coisas acontecerem com perfeição você nunca vai realizar nada de bom em sua vida, pois na vida real as coisas não se encaixam. em que mundo vc vive? esperando que tudo se ajeite sozinho? kkkkkkkkkkkkk
viva para sempre em sua prisão sem muro. é isso que o medo é, uma prisão...

...se eu estou equivocada, louca, desvairada, errada... me diga...
.

Cartas a um ingrato

...já fazem sete dias que nos vimos e falamos... e apesar de saber que você não vai ligar eu aguardo como quem espera um milagre. 

”Venho dos teus braços... Mas não sei para onde vou...” 
((Pablo Neruda))

"Enquanto a vida vai e vem
você procura achar alguém
que um dia possa lhe dizer:
Quero ficar só com você..."
((Renato Russo))

"Dê a quem você ama: asas para voar, 
raízes para voltar e motivos para ficar."
((Dalai Lama))

"... na infinita possibilidade de lugares, na infinita possibilidade de tempos, nossos tempos e nossos lugares coincidiram."
(Rubem Alves)

Cartas a um ingrato


Hoje conversando com minha tia (uma senhora muito sábia por sinal)  ela me disse:

"sabe minha filha, as pessoas se matam dentro da gente.... agente peleja, peleja mas elas acabam se matando no coração da gente........"

acho que você está morrendo....   aquela velha angústia ainda me persegue mas estou disposta a superar pois se tem uma coisa que você me ensinou quando foi viver a vida com outra pessoa é que eu posso viver sem você. isso ja foi provado..... nem eu sabia, achei que não ia aguentar, mas descobri que não há dor que agente não suporte nesta vida.

sinto uma tristeza profunda mas ja passei por isso....   e cada vez que você me derrubou so serviu pra eu saber que posso me levantar quantas vezes for preciso.

talvez se agente tivesse dado certo eu nunca iria saber o quanto posso ser forte.  obrigada é o que posso te dizer.... agora sei que não preciso de você apesar de amá-lo.

amo sem dependência... 

Cartas a um ingrato

Sabe amor, é como eu disse a você, depois de perder minha mãe, meu pai, e seu amor, descobri que posso suportar qualquer coisa nessa vida... não tenho medo de amar novamente, outra pessoa, porém não consigo fazê-lo pois so sei te amar. eu posso te dar meu coração mais uma vez para que você possa esmagá-lo mais uma vez, se assim o desejares para provar mais uma vez o meu amor por você...

"Fizeste que eu confessasse os pavores que tenho. Mas vou te dizer também o que não me apavora. Não tenho medo de estar sozinha, de ser desdenhada por quem quer que seja, nem de deixar seja lá o que for que eu tenha que deixar. E não tenho medo, tampouco, de cometer um erro, um erro que dure toda a vida e talvez tanto quanto a própria eternidade mesma."
(James Joyce)

O Vinícius sabe bem o que quero dizer...

Ternura


Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.
Vinícius de Moraes


Eu não existo sem você


Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham pra você


Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
Eu não existo sem você
Vinícius de Moraes

Cartas a um ingrato

Não se preocupe meu querido amor lindo de viver......    tudo dará certo para você.
eu realmente acredito que ficarás bem. 
sabe acho que estou mesmo enlouquecendo... converso com vc todas as noites sabendo que vc nunca lerá....
mas assim estou contigo sempre.... mesmo sendo você simplesmente imaginário. 
 tudo que eu queria era chegar em casa à noite e encontrar vc... e tu me falaria do seu dia e eu...
eu falaria das coisas que me emocionam como hoje a tarde quando o vento balançou as arvores enquanto eu ouvia Don't Worry Baby dos  Beach Boys com a Lorrie Morgan...
ou falaria das vezes que fecho os olhos e sinto seu cheiro.... vejo seus olhos...." lindo de morrer" ouço você repetir rindo de mim kkkkkkkkkkkkk
nesses momentos não sinto tristeza, mas, uma paz apaixonada e sem arrependimentos... 

Cartas a um ingrato

O amanha não existe não e mesmo? segundo Dalai lama " so exitem dois dias do ano em que nada pode ser feito, um se chama ontem e o outro amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver" 

pena que você se apega ao amanhã que nunca vem enquanto isso envelhecemos...  nada vai se resolver se você não entender que hoje e o amanha de ontem .....
decida se... seu tempo está acabando... o hoje so dura algumas horas...

Cartas a um ingrato

Escrevo te todos os dias na esperança de que talvez um dia você possa me conhecer e entender a explosão que é viver neste corpo que te adora!

cada palavra que te escrevo, seja minha ou não, cada música, diz o que o meu coração vive. não que o que sinto possa ser explicado pois como disse Carlos Drummond de Andrade : 
"Se você sabe explicar o que sente, não ama, pois o amor foge de todas as explicações possíveis"

ou como disse Shakespeare:

"De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfange não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma para a eternidade.
Se isso é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou".


não se esqueça que o amo muito e constantemente...

Cartas a um ingrato

............ minha primeira mensagem para você é um conto
de um autor que gosto muito. 

O rouxinol e a rosa
Oscar Wilde

"Ela disse que dançaria comigo se eu lhe trouxesse rosas vermelhas",
exclamou o jovem Estudante, "mas em todo o meu jardim não há nenhuma
rosa vermelha."

Do seu ninho no alto da azinheira, o Rouxinol o ouviu, e olhou por
entre as folhas, e ficou a pensar.

"Não há nenhuma rosa vermelha em todo o meu jardim!", exclamou ele, e
seus lindos olhos encheram-se de lágrimas. "Ah, nossa felicidade
depende de coisas tão pequenas! Já li tudo que escreveram os sábios,
conheço todos os segredos da filosofia, e no entanto por falta de uma
rosa vermelha minha vida infeliz."


"Finalmente, eis um que ama de verdade", disse o Rouxinol. "Noite após
noite eu o tenho cantado, muito embora não o conhecesse: noite após
noite tenho contado sua história para as estrelas, e eis que agora o
vejo. Seus cabelos são escuros como a flor do jacinto, e seus lábios
são vermelhos como a rosa de seu desejo; porém a paixão
transformou-lhe o rosto em marfim pálido, e a cravou-lhe na fronte sua
marca."

"Amanhã haverá um baile no palácio do príncipe", murmurou o jovem
Estudante, "e minha amada estará entre os convidados. Se eu lhe
trouxer uma rosa vermelha, ela há de dançar comigo até o dia raiar. Se
lhe trouxer uma rosa vermelha, eu a terei nos meus braços, e ela
deitará a cabeça no meu ombro, e sua mão ficará apertada na minha.
Porém não há nenhuma rosa vermelha no meu jardim, e por isso ficarei
sozinho, e ela passará por mim sem me olhar. Não me dará nenhuma
atenção, e meu coração será destroçado."

"Sim, ele ama de verdade", disse o Rouxinol. "Aquilo que eu canto, ele
sofre; o que para mim é júbilo, para ele é sofrimento. Sem dúvida, o
Amor é uma coisa maravilhosa. É mais precioso do que as esmeraldas,
mais caro do que as opalas finas. Nem pérolas nem romãs podem
comprá-lo, nem é coisa que se encontre à venda no mercado. Não é
possível comprá-lo de comerciante, nem pesá-lo numa balança em troca
de ouro".

"Os músicos no balcão", disse o jovem Estudante, "tocarão seus
instrumentos de corda, e meu amor dançará ao som da harpa e do
violino. Dançará com pés tão leves que nem sequer hão de tocar no
chão, e os cortesãos, com seus trajes coloridos, vão cercá-la. Porém
comigo ela não dançará, porque não tenho nenhuma rosa vermelha para
lhe dar." E jogou-se na grama, cobriu o rosto com as mãos e chorou.

"Por que chora ele?", indagou um pequeno Lagarto Verde, ao passar
correndo com a cauda levantada.

"Sim, por quê?", perguntou uma Borboleta, que esvoaçava em torno de um
raio de sol.

"Sim, por quê?", sussurrou uma Margarida, virando-se para sua vizinha,
com uma voz suave.

"Ele chora por uma rosa vermelha", disse o Rouxinol.

"Uma rosa vermelha?", exclamaram todos. "Mas que ridículo!" E o
pequeno Lagarto, que era um tanto cínico, riu à grande.

Porém o Rouxinol compreendia o segredo da dor do Estudante, e calou-se
no alto da azinheira, pensando no mistério do Amor.

De repente ele abriu as asas pardas e levantou vôo. Atravessou o
arvoredo como uma sombra, e como uma sombra cruzou o jardim.

No centro do gramado havia uma linda Roseira, e quando a viu o
Rouxinol foi até ela, pousando num ramo.

"Dá-me uma rosa vermelha", exclamou ele, "que cantarei meu canto mais
belo para ti".

Porém a Roseira fez que não com a cabeça.

"Minhas rosas são brancas", respondeu ela, "tão brancas quanto a
espuma do mar, e mais brancas que a neve das montanhas. Porém procura
minha irmã que cresce junto ao velho relógio de sol, e talvez ela
possa te dar o que queres."

Assim, o Rouxinol voou até a Roseira que crescia junto ao velho relógio de sol.

"Dá-me uma rosa vermelha", exclamou ele, "que cantarei meu canto mais
belo para ti."

Porém a Roseira fez que não com a cabeça.

"Minhas rosas são amarelas", respondeu ela, "amarelas como os cabelos
da sereia que está sentada num trono de âmbar, e mais amarelas que o
narciso que floresce no prado quando o ceifeiro ainda não veio com sua
foice. Porém procura minha irmã que cresce junto à janela do
Estudante, e talvez ela possa te dar o que queres."

Assim, o Rouxinol voou até a Roseira que crescia junto à janela do Estudante.

"Dá-me uma rosa vermelha", exclamou ele, "que cantarei meu canto mais
belo para ti."

Porém a Roseira fez que não com a cabeça.

"Minhas rosas são vermelhas", respondeu ela, "vermelhas como os pés da
pomba, e mais vermelhas que os grandes leques de coral que ficam a
abanar na caverna no fundo do oceano. Porém o inverno congelou minhas
veias, e o frio queimou meus brotos, e a tempestade quebrou meus
galhos, e não darei nenhuma rosa este ano."

"Uma única rosa vermelha é tudo que quero", exclamou o Rouxinol, só
uma rosa vermelha! Não há nenhuma maneira de consegui-la?"

"Existe uma maneira", respondeu a Roseira, "mas é tão terrível que não
ouso te contar."

"Conta-me", disse o Rouxinol. "Não tenho medo."

"Se queres uma rosa vermelha", disse a Roseira, "tens de criá-la com
tua música ao luar, e tingi-Ia com o sangue de teu coração. Tens de
cantar para mim apertando o peito contra um espinho. A noite inteira
tens de cantar para mim, até que o espinho perfure teu coração e teu
sangue penetre em minhas veias, e se torne meu."

"A Morte é um preço alto a pagar por uma rosa vermelha", exclamou o
Rouxinol, "e todos dão muito valor à Vida. É agradável, no bosque
verdejante, ver o Sol em sua carruagem de ouro, e a Lua em sua
carruagem de madrepérola. Doce é o perfume do pilriteiro, e as belas
são as campânulas que se escondem no vale, e as urzes que florescem no
morro. Porém o Amor é melhor que a Vida, e o que é o coração de um
pássaro comparado com o coração de um homem?"

Assim, ele abriu as asas pardas e levantou vôo. Atravessou o jardim
como uma sombra, e como uma sombra voou pelo arvoredo.

O jovem Estudante continuava deitado na grama, onde o Rouxinol o havia
deixado, e as lágrimas ainda não haviam secado em seus belos olhos.

"Regozija-te", exclamou o Rouxinol, "regozija-te; terás tua rosa
vermelha. Vou criá-la com minha música ao luar, e tingi-la com o
sangue do meu coração. Tudo que te peço em troca é que ames de
verdade, pois o Amor é mais sábio que a Filosofia, por mais sábia que
ela seja, e mais poderoso que o Poder, por mais poderoso que ele seja.
Suas asas são da cor do fogo, e tem a cor do fogo seu corpo. Seus
lábios são doces como o mel, e seu hálito é como o incenso.

O Estudante levantou os olhos e ficou a escutá-lo, porém não
compreendia o que lhe dizia o Rouxinol, pois só conhecia as coisas que
estão escritas nos livros.

Mas o Carvalho compreendeu, e entristeceu-se, pois ele gostava muito
do pequeno Rouxinol que havia construído um ninho em seus galhos.

"Canta uma última canção para mim", sussurrou ele; "vou sentir-me
muito solitário depois que tu partires."

Assim, o Rouxinol cantou para o Carvalho, e sua voz era como água
jorrando de uma jarra de prata.

Quando o Rouxinol terminou sua canção, o Estudante levantou-se,
tirando do bolso um caderno e um lápis.

"Forma ele tem", disse ele a si próprio, enquanto se afastava,
caminhando pelo arvoredo, "isso não se pode negar; mas terá
sentimentos? Temo que não. Na verdade, ele é como a maioria dos
artistas; só estilo, nenhuma sinceridade. Não seria capaz de
sacrificar-se pelos outros. Pensa só na música, e todos sabem que as
artes são egoístas. Mesmo assim, devo admitir que há algumas notas
belas em sua voz. Pena que nada signifiquem, nem façam nada de bom na
prática." E foi para seu quarto, deitou-se em sua pequena enxerga e
começou a pensar em seu amor; depois de algum tempo, adormeceu.

E quando a Lua brilhava nos céus, o Rouxinol voou até a Roseira e
cravou o peito no espinho. A noite inteira ele cantou apertando o
peito contra o espinho, e a Lua, fria e cristalina, inclinou-se para
ouvir. A noite inteira ele cantou, e o espinho foi se cravando cada
vez mais fundo em seu peito, e o sangue foi-lhe escapando das veias.

Cantou primeiro o nascimento do amor no coração de um rapaz e de uma
moça. E no ramo mais alto da Roseira abriu-se uma rosa maravilhosa,
pétala após pétala, à medida que canção seguia canção. Pálida era, de
início, como a névoa que paira sobre o rio - pálida como os pés da
manhã, e prateada como
as asas da alvorada. Como a sombra de uma rosa num espelho de prata,
como a sombra de uma rosa numa poça d' água, tal era a rosa que
floresceu no ramo mais alto da Roseira.

Porém a Roseira disse ao Rouxinol que se apertasse com mais força
contra o espinho. Aperta-te mais, pequeno Rouxinol", exclamou a
Roseira, "senão o dia chegará antes que esteja pronta a rosa."

Assim, o Rouxinol apertou-se com ainda mais força contra o espinho, e
seu canto soou mais alto, pois ele cantava o nascimento da paixão na
alma de um homem e uma mulher.

E um toque róseo delicado surgiu nas folhas da rosa, tal como o rubor
nas faces do noivo quando ele beija os lábios da noiva. Porém o
espinho ainda não havia penetrado até seu coração, e assim o coração
da rosa permanecia branco, pois só o coração do sangue de um Rouxinol
pode tingir de vermelho o coração de uma rosa.

E a Roseira insistia para que o Rouxinol se apertasse com mais força
contra o espinho. "Aperta-te mais, pequeno Rouxinol", exclamou a
Roseira, "senão o dia chegará antes que esteja pronta a rosa."

Assim, o Rouxinol apertou-se com ainda mais força contra o espinho, e
uma feroz pontada de dor atravessou-lhe o corpo. Terrível, terrível
era a dor, e mais e mais tremendo era seu canto, pois ele cantava o
Amor que é levado à perfeição pela Morte, o Amor que não morre no
túmulo.

E a rosa maravilhosa ficou rubra, como a rosa do céu ao alvorecer.
Rubra era sua grinalda de pétalas, e rubro como um rubi era seu
coração.

Porém a voz do Rouxinol ficava cada vez mais fraca, e suas pequenas
asas começaram a se bater, e seus olhos se embaçaram. Mais e mais
fraca era sua canção, e ele sentiu algo a lhe sufocar a garganta.

Então desprendeu-se dele uma derradeira explosão de música. A Lua alva
a ouviu, e esqueceu-se do amanhecer, e permaneceu no céu. A rosa rubra
a ouviu, e estremeceu de êxtase, e abriu suas pétalas para o ar frio
da manhã. O Eco vou-a para sua caverna púrpura nas montanhas, e
despertou de seus
sonhos os pastores adormecidos. A música flutuou por entre os juncos
do rio, e eles leva ram sua mensagem até o mar.

"Olha, olha!", exclamou a Roseira, "a rosa está pronta." Porém o
Rouxinol não deu resposta, pois jazia morto na grama alta, com o
espinho cravado no coração.

E ao meio-dia o Estudante abriu a janela e olhou para fora.

"Ora, mas que sorte extraordinária!", exclamou. "Eis aqui uma rosa
vermelha! Nunca vi uma rosa semelhante em toda minha vida. É tão bela
que deve ter um nome comprido em latim." E, abaixando-se, colheu-a.

Em seguida, pôs o chapéu e correu até a casa do Professor com a rosa na mão.

A filha do Professor estava sentada à porta, enrolando seda azul num
carretel, e seu cãozinho estava deitado a seus pés.

"Disseste que dançarias comigo se eu te trouxesse uma rosa vermelha",
disse o Estudante. "Eis aqui a rosa mais vermelha de todo o mundo. Tu
a usarás junto ao teu coração, e quando dançarmos ela te dirá quanto
te amo."

Porém a moça franziu a testa.

"Creio que não vai combinar com meu vestido", respondeu ela; "e, além
disso, o sobrinho do Tesoureiro enviou-me jóias de verdade, e todo
mundo sabe que as jóias custam muito mais do que as flores."

"Ora, mas és mesmo uma ingrata", disse o Estudante, zangado, e jogou a
rosa na rua; a flor caiu na sarjeta, e uma carroça passou por cima
dela.

"Ingrata!", exclamou a moça. "Tu é que és muito mal-educado; e quem és
tu? Apenas um Estudante. Ora, creio que não tens sequer fivelas de
prata em teus sapatos, como tem o sobrinho do Tesoureiro." E,
levantando-se, entrou em casa.

"Que coisa mais tola é o Amor!", disse o Estudante enquanto se
afastava. "É bem menos útil que a Lógica, pois nada prova, e fica o
tempo todo a nos dizer coisas que não vão acontecer, e fazendo-nos
acreditar em coisas que não são verdade. No final das contas, é algo
muito pouco prático, e como em nossos tempos ser prático é tudo, vou
retomar a Filosofia e estudar Metafísica."

Assim, voltou para seu quarto, pegou um livro grande e poeirento, e
começou a ler.