Infância

Interior.
Canto do galo.
Madrugar.
O som da mãe arrastando chinelo na cozinha.
O crepitar da madeira no fogão.
O cheiro de café.
Leite quente na caneca esmaltada.
" Tira o jejum depois cê conta o sonho"
Humm... beiju com manteiga.
Obrigações...
Imensos terreiro varridos
O grão dourado que cai das mãos:
"Ti...ti...ti...pru...pru...pru...
Galinhas; patos; perus; leitões...
O espreguiçar dos cães à soleira
O vento balançando as folhas das mangueiras
O frescor da juventude à sombra das bananeiras.
O caminho do rio.
O bater das asas das juritis.
A água.
O mergulho.
A alma lavada.
O sabor de uma infância
que não foi roubada...

Nostalgia...

É o que sinto quando vejo os campos verdes da minha terra que certamente não é Liverpool mas em meus pensamentos o som dos Beatles  ecoa e até consigo ver agora os dedos  de um de meus irmãos
tocando "you've got to hide your love away" , na traseira de uma  pik up azul que, deslizando através dos montes como se fosse o próprio tempo, leva nossas vidas...
"Há lugares dos quais vou me lembrar por toda minha vida, embora alguns tenham mudado".
É, ainda continuam dizendo o que eu mesma não conseguiria e sempre que volto lá procuro loucamente por essas cenas mas não encontro nada e tento reproduzir as gargalhadas mas,
da minha garganta, nada...
E procuramos com desespero  materializar os corpos que antes ali presentes eram o sentido; mas
que audácia tentar a felicidade através do perfume em uma peça esquecida dentro de móvel antigo
talhado pelas mãos do ancião.
Ainda quero reencontrar meus irmãos para juntos cantarmos http://youtu.be/SiuQ20mghDI e sentirmos como se nada tivesse mudado.